Dia 23 de setembro - Dia Internacional de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Mulheres






Estava muito cansada após vários dias palestrando sobre exploração sexual. Então fui caminhar na praia para descansar a mente.

Sentei à sombra e, quando tomava uma água de coco, três meninas se aproximaram pedindo que comprasse artesanatos de folha de coqueiro. Uma delas, Maria, não tinha mais de 4 anos, com olhinhos pretos cheios de tristeza, quis sentar no meu colo mas não deixei. É um cuidado que se aprende ao trabalhar com vítimas de abuso. Logo sentou-se ao meu lado com as outras meninas. Enquanto conversava com elas, Maria quis colocar a mãozinha dentro do meu shorts. Eu me assustei e, com meu pulo, acabei assustando-a também. 

Perguntei: “o que você quer fazer?”. Ela respondeu: “carinho, tia, carinho. Deixa eu tocar. É gostoso.”. Engoli em seco e comecei a explicar docemente que isso não é carinho. Perguntei onde tinha aprendido, ao que ela disse, com a maior inocência, como ela tocava na genitália de adultos e se deixava tocar por eles, e eles davam moedas, comida e guloseimas, quando ela se deixava tocar.

A história de Maria é real, o nome não. Mas, lamentavelmente, nossa terra está cheia de Marias (e Joãos também).


Nossas praias, serras, ruas, rodovias e até casas de “famílias decentes”, estão cheias de crianças e adolescentes que são explorados sexualmente, de adultos que veem tudo o que acontece com eles; e nada fazem quando outros “tiram uma casquinha” se esfregando no corpo inocente da neta, do filho, da menina da vizinha; quando trocam um prato de comida pela permissão de dedos dentro da calcinha, dizendo que é carinho; de gente que estupra, violenta, humilha e usa, pelo próprio prazer ou por dinheiro. Pessoas exploram e roubam a dignidade, quebram a inocência, usam como coisa, deixam marcas no corpo, na mente, roubam um pedaço da alma. 

E os exploradores? Eles merecem ser punidos e pagar nesta terra, justiça pelo que fizeram e fazem.


Pesquisas mostram que muitos dos exploradores e estupradores foram maltratados ou estuprados. Ainda que seja verdade, é decisão de cada um como vai enfrentar as feridas; nós decidimos se nossas feridas nos fazem misericordiosos ou nos transformam em gente que rouba a vida de outros.

A grande maioria das vítimas se mantém em silêncio por medo, vergonha e até culpa. Sim, quem é explorado, ainda que indiscutivelmente inocente, se sente culpado.


As feridas do abuso, do estupro e da exploração, só podem ser curadas por Deus, só ele repara o que está quebrado em nós, só ele restaura a nossa alma.


Nestes últimos 20 anos da minha vida, já vi muitas Marias e Joãos com vidas restauradas e olhos cheios de paz.


Jorgelina Burgos

Miss. IBNU



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